Em setembro, recebemos em nossa casa o
Cacique Eliseu.
Ele estava aqui na Europa falando da realidade dos Guaranis Kaiowá no Brasil e pedindo apoio internacional para que o governo brasileiro demarque suas terras.
Eu gostaria que as pessoas que lêem minha pavulagem também entendesse a questão dos Guaranis, então aproveitei e fiz uma entrevista curta com o
Cacique Eliseu.
- é a
primeira vez que eu vim para a Europa, e estou gostando muito, porque vim
trazer a nossa realidade, a nossa vivência lá do Brasil.
Nós estamos
[aqui na Europa] há mais de uma semana.
O objetivo
da visita é trazer a realidade dos Guarani Kaiowá, principalmente dos que moram
na fronteira do Paraguai-Brasil. Há falta de terra, muita violência, número de
mortes muito alto, tem a questão da alimentação insuficiente para o sustento e
principalmente por falta de espaço, de
terra .... e também viemos pedir apoio internacionalmente para que se
pressionasse o governo para demarcar nossas terras.
O nosso
problema, a nossa luta é a falta de terra, falta espaço para 40.000 guarani
kaiowás.
Já fomos
até Genebra, Bélgica e vamos para Roma também.
Conversamos
com várias pessoas, inclusive com a relatora dos direitos humanos para a
questão indígena da ONU. Ela se comprometeu a fazer uma visita ao Mato Grosso
do Sul.
Para nós
isso é muito bom.
Queremos
que as pessoas, essas autoridades vejam nossa realidade.
Eu sou de
Curuçuambá, no Mato Grosso do Sul.
Fomos
atacados várias vezes por pistoleiros. Mataram uma senhora de idade (73 anos),
é uma forma de intimidar as pessoas. Já mataram várias lideranças nossas.
Eu estou
sendo ameaçado de morte também. Porque eu estou denunciando, mostrando a
realidade... Mas eu não me calo. Eu não tenho mais medo, muitas lideranças já
passaram por isso, já derramaram sangue por lutar por um pedaço de terra..e o mesmo
caminho estou levando.
Eu não
consigo mais ficar em um só lugar, eu tenho que ficar mudando sempre. Eu fico como
preso, escondido para não ser morto. Eu sou livre, mas eu vivo preso.
Por isso
meu objetivo é mostrar esta realidade. Nós somos muito massacrados, os guaranis
estão sofrendo muito de violência por reinvidicarem nossos direitos. A
impunidade é muito grande.
Muitas
lideranças estão denunciando, nós temos um movimento: o “atu guassu”.
Nós,
Guarani, estamos decididos, se o governo não demarcar a terra, nós vamos ocupar
a terra.
Estamos
levando a nossa vida em perigo pela nossa sobrevivência.
A terra
para nós é muito importante, é uma mãe, da terra nós produzimos, é da terra que
alimenta a nossa cultura, nossa vida, nosso modo de vida indígena. Isso para
nós é a vida.
Mato Grosso
do Sul, está devastado, os rios estão secando, existe muita fome.Os guarani
estão dependendo de cesta básica, mas não dura nem 15 dias. Muitas vezes nos é
levado produtos vencidos.
Muitas
lideranças, e crianças vivem na beira da estrada, mais de 3.000 indígenas estão
morando na beira da estrada, em acampamento... somos muito ameaçados, não
sabemos o dia e a hora que vamos ser atacados.
Mas enfrentamos
e resistimos.
Tem muitas
violações e desrespeito aos direitos humanos.
Um recado:
Eu gostaria
de deixar meu agradecimento a todos que vão conhecer a nossa realidade. Estou
pedindo apoio para que nos ajudem e divulguem a nossa realidade. Temos experiência internacionalmente através
do Facebook, de cartas que pressionam o governo brasileiro pela demarcação das
terras.
Por isso
peço esse apoio: divulgue a nossa realidade.
A quem interessar possa... uma outra reportagem sobre a visita do Cacique Eliseu na ONU.
http://www.mst.org.br/node/16582