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Sentada a minha frente, uma Senhora lia jornal.
Abri meu livro, precisava ler alguma coisa também. Mas logo tive que parar a leitura, pois a cobradora pedia minha passagem.
Aí, meu olhos pararam na Senhorinha de casaco vermelho e preto mais uma vez. Passei a observa-la discretamente.
A Senhorinha era muito elegante, cabelos brancos bem penteados, não sei se no efeito da escova ou de bobes.
Uma maquiagem suave e sem preocupação em esconder as linhas do tempo, da vida.
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Na mão da Senhorinha, um celular. Um celular pequeno, mas era um celular.
Pronto, as letras do meu livro já não eram mais importantes.
Meu olhos e pensamentos estavam naquela Senhorinha, elegante e moderna, que escrevia e lia mensagens no celular.
Na mão direita uma bracelete bem trabalhado que entrelaçava duas cores, mas o brilho dourado ofuscava o branco-prateado, acho que era ouro.
Ela me olhou de repente, fiquei sem graça. Baixei a cabeça humilde e meu olhos voltaram para o livro esquecido nas minhas mãos.
O trem parou no meio do caminho. O condutor disse que havia problemas, e que não íamos chegar na hora planejada, precisávamos esperar mais um pouco.
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A Senhorinha abriu a bolsa, e em tom baixo, mas que meu ouvido captou, ela disse para a pessoa do outro lado da linha:
- Comece seu café da manhã, o trem atrasou e não chegarei a tempo.
Ela guardou o celular em uma bolsa pequena preta. Notei que era quadrada, de alças, da moda.
Antes mesmo do trem chegar no destino final, ela já estava de pé, inquieta. O trem parou e ela com sua malinha pequena e uma sombrinha foi andando em direção a porta de saída.
Quando desci do trem, fui caminhando pela estação, olhando para um lado, para outro, confesso, procurava pela Senhorinha, mas ela já havia desaparecido no meio da multidão.
Ah, aquela elegante Senhorinha de casaco vermelho e preto ficou no meu pensamento....
Para quem teria telefonado?
Para onde ia?
Iria encontrar um novo ou antigo amor?
Será que um dia eu serei, uma Senhorinha elegante, moderna e viajadeira?