10 de out. de 2010

Julgar, discriminar e jejuar?

Há tempos que ando pensando sobre o nosso julgamento sobre comida e muitas por discrimnação não comemos ou jejuamos.
É nesse contexto que quero refletir aqui sobre a diversidade alimentar x preconceito alimentar.
Sobre diversidade alimentar, me refiro sobre a forma de comer. O que se come e como se come em diferentes culturas e povos.
Compartilhando minhas reflexões a partir da prática e começo por um fato recente.

No fim de semana passado, por conta das eleições no Brasil, Flavio e eu passamos o final de semana na cidade grande.
Juntamos a fome com a vontade comer, ou seja, cumprimos nossa agradável obrigação de votar e ainda aproveitamos para passear e conhecer um pouco de Frankfurt.

Lá, fomos em um restaurante Etíope. Pedimos um prato que combinava pequenas porções de diferentes pratos típicos. Diferentes carnes, diferentes preparos e diferentes saladas. Tudo delicioso.
Flavio tomou uma cerveja nigeriana, que para nossa surpresa, foi servida na cuia. E eu tomei uma taça de vinho de mel.
Esse prato que pedimos era acompanhado de panquecas. A forma como se come, é que é diferente de como nós, brasileir@s e/ou de outras culturas comemos.

Esse prato deve ser comido com as mãos. Vou tentar explicar.
Pega-se uma panqueca, rasga-se um pedaço e com este pedaço pega-se um pouquinho de alguma das porções, como se fosse o recheio.
Um pequeno grupo que estava na mesa ao lado, pediu o mesmo prato, mas comeram com garfo e faca. Talvez porque no julgamento deles, não era adequado comer com as mãos.
Vale ressaltar que nós lavamos as mãos antes de nos deleitarmos no que para nós, era "exótico".

Outro episódio que me chamou atenção sobre essa temática (diversidade alimentar x preconceitos), aconteceu em uma das minhas viagens de trem.

Eu peguei um trem em Stuttgart voltando para Heidelberg. O trem estava lotado, além de ser uma sexta-feira, as pessoas ainda estavam em ritmo de férias de verão, e o destino final do trem era Berlim.
Sentei ao lado de uma mulher, aparentemente entre 35 a 45 anos. Desconfio que era alemã. Nós trocamos pouquíssmima palavras em alemão, e como aqui tem muito estrangeir@s, não dá para saber se era nativa.
No meio da viagem, esta mulher abre um mochila e tira duas marmitinhas. Ela abriu uma que tinha um sanduiche. Quando terminou, abriu outra marmita, que parecia conter uma sobremesa. Eu estava lendo uma revista, mas percebi tudo pelo rabo do olho.
De repente, entrei em estado de choque. A mulher, sem nenhum pudor, começou a lamber a tampa do pote, e bem antes de comer a sobremesa.
No meu julgamento, eu achei isso nojento e a mulher mal educada. Mas será que isso não é parte da cultura dela?

E por fim quero relatar outro caso que aconteceu comigo. Quando fui para o Vietnam, em 2008, quase jejuei. Passei os três primeiros dias, só comendo frutas, verduras, arroz ou macarrão. É que eu descobri que cachorro era um prato bem típico e eu fiquei com medo de comer carne, pois temia ser de ser cachorro.
Reconheço que foi puro preconceito meu, já que, nem sou vegetariana e tão pouco gosto de cachorro. Além disso, cachorro, assim como vaca, galinha, porco, e etc, deve ter alto teor de proteína, então pode até ser bom nutricionalmente, mas mesmo assim dispensei.

Na tentativa de liberar meus preconceitos alimentares, tomei milk shake de feijão preto com tapioca. E gostei!

Reflexão:
É assim mesmo, nós seres humanos, digo eu, por mais que tentamos ter a mente aberta e livre de preconceitos, muitas vezes julgamos e discriminamos certas comidas e /ou comportamentos que fogem ao nosso padrão. Só não podemos deixar que esse comportamento nos prive do contato social com diferentes culturas ou julga-las inferior.
Ninguém é obrigado a comer algo que não lhe apetece, mas devemos aprender a conviver com o que é diferente ou fora do "nosso" padrão, porque para a outra pessoa, nós é que somos diferentes.

7 Comente aqui:

Chant disse...

Muito bom Rô!Essa reflexão pode ser também estendida para outros temas além da comida.Bjs e bom final de domingo!

Milton T disse...

Muitos dizem que FHC só experimentou Buchada de Bode, porque imaginou ser "Tripe a mode de Cain" hehehe

Bom fim de semana

=)

Ivana disse...

Perfeito!
Sabe, Rô, eu adoraria viajar e sair por aí experimetando novos sabores, novos odores e jeitos de comer. Poderia até não aderir para a minha vida, mas gostaria de experimentar.
Aliás, uma vez, quando chegou maniçoba via sedex, convidei um casal de amigos (ela Chilena e ele daqui de Floripa) para provar a nossa iguaria. Qual não foi o meu espanto, com a cara de nojo que eles mal conseguiram disfarçar! Isso porque expliquei direitinho o que continha e como foi o preparo. Olha, fiquei chateada pra caramba, mas eles não eram obrigados a gostar e muito menos a comer, não é?
Beijos!

Anônimo disse...

Boa reflexao Ro.
Uma vez eu estava numa fila de teatro em NY, toda contente, sozinha, ia ver um musical lindo. Uma senhora americana puxou conversa comigo, ok, conversei. De repente sem mais, ela puxou um bife ja mordido de dentro da bolsa, segurando com a mao como se fosse chocolate, lascou uma mordida e ainda me ofereceu. Meu deu ansia aquilo, nossa que nojo. Me afastei discretamente. Nao acredito que um ato desse seja cultural e sim meio irracional. Tambem achava desrespeito com o direito alheio pessoas que iam ao teatro ou ao cinema com suas "quetinhas" com cheiros fortes de comida obrigando a toda a audiencia a senti-los. Se a pessoa nao tem tempo de comer entre sair de um trabalho e entrar num teatro, eu sugeririra que comesse no saguao, no banheiro ou mesmo, melhor idéia, do lado de fora. É uma questao de respeitar o ar que os outros respiram. Ja uma outra situaçao que vivi foi o convite de uns vizinhos indianos para jantar. Era tudo muito difernte de nos, a comida estava especiamente ruim o que era para ser quente estava frio e gorduroso, o jantar foi servido tardissimo, eles comeram com a mao e nos deram uma colher de sopa como talher. Mas nao me constrangi, ali sabia que ia encontrar algo difernte, cultura diferente. Outra coisa. Bjos, adoro essas polemicas ligadas a comida que voce levanta aqui.

Fernanda disse...

É um facto, a alimentação é cultural. Em Portugal, por exemplo, o coelho é uma carne muito apreciada, por ser branca, no entanto em países como a Holanda e Suécia o coelho é um animal de estimação. Não me passa pela cabeça comer um gato, ou cão, como fazem na China, acho isso bárbaro e compreendo que os holandeses também nos achem bárbaros por isso.

Na verdade, acalento a vontade de me tornar vegetariana, cada vez mais, então não tenciono começar a comer outros animais, mas deixar de comer estes, que utilizamos na cozinha portuguesa. Só que o processo é lento...

Boa semana, Rô!
Beijos

Anônimo disse...

RÕ, aceito diferenças, mas assim como em qualquer outro aspecto cultural existem alguns limites que fogem ao âmbito da decência.

Comer com as mãos acho muito normal e quem nunca lambeu a tampinha do iogurte? Mas crueldade do tipo barbatana de tubarão que é retirada quando ele está vivo e o bicho é devolvido assim ao mar, ou extrair bílis de urso como remédio por um orifício do estômago de um urso vivo, mantido em cativeiro quase sem se mexer, chega às raias da imbecilidade. Não sei se estou errada, mas países asiáticos tem um número maior dessas chamadas excentricidades revoltantes. Serça que a necessidade determinou essas escolhas?
Abraço e bom apetite.

Marcia H disse...

Rô,
ingera é pao, adoro, tem um restaurante etíope em DUS onde eu ia sempre que podia. Clara adora comer feijao com as maos. E eu teria lambido qualquer tampinha de pote de sobremesa, sem cerimônia rsrsr

Eu nao comeria cachorro, nem macaco, nao como bichos silvestres nenhum e depois de ler "Eating animals" estou cada vez menos apta a comer carne.

O sofrimento é grande, nem precisa ser barbatana de tubarao. Para pescar camarao, os barcos destroem o fundo do mar. Galinhas de granja, peixe de aquacultura e porcos confinados estao gerando germes potentes e destruindo a biodiversidade. Sem falar que os produtores de frango estao acabando com os pequenos produtores africanos - dê uma procurada na net.
Um horror!