3 de abril 2015 |
Luta pela vida, nossa e d@s outr@s.
Uma homenagem à minha doce e valente
companheira de caminhada.
Uma homenagem à minha doce e valente
companheira de caminhada.
Nos últimos anos, muita gente me perguntou como é viver com alguém que tem
câncer. Na realidade, nunca me senti totalmente à vontade ao tentar responder a
pergunta. Tampouco me sentia satisfeito com as minhas respostas, que não me
convenciam. De um ano para cá, no entanto, isto mudou radicalmente, como se eu
tivesse sido atingido por um raio: as nevoas se dissiparam e as coisas ficaram
muito claras. O real é que venho vivendo intensamente, há quase 15 anos com uma
mulher lindamente viva e suave, cujo sonho é contribuir que a sociedade
brasileira amadureça, supere todas as formas de discriminação contra a mulher,
contra os negros e mulatos, contra os povos indígenas, entre outros.
Auto-reconhecendo-se como indígena e negra ela vem lutando ao lado dos
quilombolas, povos indígenas e populações negras pelo pleno reconhecimento dos
direitos destas populações e pela reparação da dívida histórica que a sociedade
brasileira, em particular suas elites, ainda tem para com estes povos, que são
a maioria do povo brasileiro.
06 de abril de 2015 |
Sua maior paixão, no entanto, é entender a luta
do povo quilombola do Curiaú, Amapá que lhe inspirou e continua a inspirar a
seguir na busca de sua autodeterminação e reconhecimento, mesmo frente a uma
série de obstáculos políticos e estruturais.
O câncer a atingiu repentinamente, em meio ao seu trabalho de campo, como um
trem descarrilhado. Ela não teve ou tem o câncer, na realidade o câncer a
atingiu. Sua reação foi um pouco poética, como a de um Chico: “Apesar de você,
amanha vai ser outro dia”. E ela fez de tudo, e continua a fazer para se livrar
do inconveniente intruso, e continuou a viver intensamente a vida, ao esmo
tempo em que continua com sua pesquisa participativa. Agora incorporando em seu
dia a dia a defesa dos direitos dos portadores de colostomia, dos portadores de
necessidades especiais e de câncer, usando sua leveza e jocosidade para abordar
temas polêmicos e tabus em seu blog.
Por isto tudo, agora entendo porque eu tinha dificuldade em responder a
pergunta: “como é viver com alguém que tem câncer?” Eu nunca vivi com este
alguém. Eu vivo com uma mulher, Roseane, que não tem medo de intempéries, que
nunca se deixou intimidar pela discriminação racial, pelo abuso de poder, pelo
machismo sexista e homofóbico, pela violência contra os e as jovens, e muito
menos pelo câncer. E sempre respondeu com sua firmeza ponderada, e uma profunda
crença no bem e no potencial que existe no recôndito de cada ser humano, e que
precisa ser cultivado.
Hoje é sexta feira da paixão, amanhã vai ser outro dia, é Sábado de Aleluia, dia de festa. E para ela, a Páscoa é dia de renascimento.
Hoje é sexta feira da paixão, amanhã vai ser outro dia, é Sábado de Aleluia, dia de festa. E para ela, a Páscoa é dia de renascimento.
Enquanto isto, vamos vivendo cada dia como deve ser vivido, intensamente,
fazendo tudo que precisamos, podemos e queremos fazer para contribuir para a construção
de um mundo melhor para todas e todos, incluindo nos mesmos.
Te amo de paixão, Roseane Viana.
Flavio
Te amo de paixão, Roseane Viana.
Flavio
P.S.Post escrito e publicado no dia 3 de abril de 2015, 13 dias antes da passagem da Ro. Re-publico hoje como celebração de aniversário com ela só no coração.