8 de out. de 2014

Pela demarcação da terras dos Guarani Kaiowá - um apelo

Em setembro, recebemos em nossa casa o Cacique Eliseu.
Ele estava aqui na Europa falando da realidade dos Guaranis Kaiowá no Brasil e pedindo apoio internacional para que o governo brasileiro demarque suas terras.

Eu gostaria que as pessoas que lêem minha pavulagem também entendesse a questão dos Guaranis, então aproveitei e fiz uma entrevista  curta com o Cacique Eliseu.

- é a primeira vez que eu vim para a Europa, e estou gostando muito, porque vim trazer a nossa realidade, a nossa vivência lá do Brasil.
Nós estamos [aqui na Europa] há mais de uma semana.

O objetivo da visita é trazer a realidade dos Guarani Kaiowá, principalmente dos que moram na fronteira do Paraguai-Brasil. Há falta de terra, muita violência, número de mortes muito alto, tem a questão da alimentação insuficiente para o sustento e principalmente por falta de espaço,  de terra .... e também viemos pedir apoio internacionalmente para que se pressionasse o governo para demarcar nossas terras.

O nosso problema, a nossa luta é a falta de terra, falta espaço para 40.000 guarani kaiowás.
Já fomos até Genebra, Bélgica e vamos para Roma também.

Conversamos com várias pessoas, inclusive com a relatora dos direitos humanos para a questão indígena da ONU. Ela se comprometeu a fazer uma visita ao Mato Grosso do Sul.
Para nós isso é muito bom.
Queremos que as pessoas, essas autoridades vejam nossa realidade.

Eu sou de Curuçuambá, no Mato Grosso do Sul.
Fomos atacados várias vezes por pistoleiros. Mataram uma senhora de idade (73 anos), é uma forma de intimidar as pessoas. Já mataram várias lideranças nossas.

Eu estou sendo ameaçado de morte também. Porque eu estou denunciando, mostrando a realidade... Mas eu não me calo. Eu não tenho mais medo, muitas lideranças já passaram por isso, já derramaram sangue por lutar por um pedaço de terra..e o mesmo caminho estou levando.
Eu não consigo mais ficar em um só lugar, eu tenho que ficar mudando sempre. Eu fico como preso, escondido para não ser morto. Eu sou livre, mas eu vivo preso.

Por isso meu objetivo é mostrar esta realidade. Nós somos muito massacrados, os guaranis estão sofrendo muito de violência por reinvidicarem nossos direitos. A impunidade é muito grande.
Muitas lideranças estão denunciando, nós temos um movimento: o “atu guassu”.

Nós, Guarani, estamos decididos, se o governo não demarcar a terra, nós vamos ocupar a terra.
Estamos levando a nossa vida em perigo pela nossa sobrevivência.

A terra para nós é muito importante, é uma mãe, da terra nós produzimos, é da terra que alimenta a nossa cultura, nossa vida, nosso modo de vida indígena. Isso para nós é a vida.

Mato Grosso do Sul, está devastado, os rios estão secando, existe muita fome.Os guarani estão dependendo de cesta básica, mas não dura nem 15 dias. Muitas vezes nos é levado produtos vencidos.
Muitas lideranças, e crianças vivem na beira da estrada, mais de 3.000 indígenas estão morando na beira da estrada, em acampamento... somos muito ameaçados, não sabemos o dia e a hora que vamos ser atacados.
Mas enfrentamos e resistimos.
Tem muitas violações e desrespeito aos direitos humanos.

Um recado:
Eu gostaria de deixar meu agradecimento a todos que vão conhecer a nossa realidade. Estou pedindo apoio para que nos ajudem e divulguem a nossa realidade.  Temos experiência internacionalmente através do Facebook, de cartas que pressionam o governo brasileiro pela demarcação das terras.

Por isso peço esse apoio: divulgue a nossa realidade.

A quem interessar possa... uma outra reportagem sobre a visita do Cacique Eliseu na ONU.

Mato Grosso do Sul: onde um boi vale mais que uma criança indígena

http://www.mst.org.br/node/16582

3 Comente aqui:

Elaine Pasquim disse...

Ótima entrevista! Exemplo de resistência, de esperança, de união! Continuemos aprendendo com esses povos!

Fernanda Sampaio disse...

Conheço a luta do povo guaranis Kaiowá, inclusivamente já assinei uma petição e divulguei no meu blog. Sei que é pouco, mas enquanto esse povo estiver em perigo o nosso pouco é absolutamente necessário.
O cacique Eliseu é um herói, desejo que tenha uma longa vida, repleta de vitórias em prol do seu povo.

Óptima entrevista, Rô!
Beijos

Camille disse...

Que bacana essa entrevista. Ainda nao tinha lido.Meu blog contiinua sem atualizar seus posts.Parado la em São João. Ainda bem que é SaoJoão,gosto de um arraia...Boa semana amiga!!!