27 de jul. de 2015

Pelas bandas do Nepal . Capítulo 2

Hoje pela manhã, os céus do Nepal estavam azul anil, de fazer inveja ao céu do Brasil, sem uma nuvem. Eles saíram cedo para Nagarkot, um ponto de observação das montanhas que compõem o Himalaia. Após um percurso maravilhoso de subida, a turma chegou na torre de Nagarkot. Pela primeira vez em várias semanas, era possível a observação de uma vista de 360° de cordilheira, e ver todo o vale em direção a Katmandu. Nem os nepaleses, nem o Flavio e sua colega acreditavam no que estavam vendo. Brincando, o Flavio comentou com o pessoal quem sabe Sidarta tinha organizado o cenário. Mal sabe ele....As coisas estavam indo bem, mas faltava o principal.


No caminho de volta, a idéia era parar em Bhaktapur, uma das cidades sagradas do Nepal, gravemente atingida pelo terremoto. Isto era central no meu plano, mas eu precisava organizar bem as coisas. Meu mensageiro somente estaria disponível a partir de meio-dia, e o acompanhante do Flavio estava com muita pressa de voltar para Katmandu e visitar o templo crematório, o que também estava nos meus planos. Ele havia marcado o almoço, em um restaurante familiar de beira de estrada, com uma só mesa, para as 10 horas da manhã, hora comum de se comer no Nepal. Mas isto acabaria levando a um desencontro fatal, e meu plano iria por agua abaixo, sem monções.

Mas eu dei um jeitinho... Dei uma desreguladinha no ponteiro do combustível, o que foi o suficiente para atrasá-los mais ou menos uma hora para o almoço, e portanto, para a visita a Bhaktapur. Mas não pensem mal de mim. Eles ficaram parados em um lugar lindo com uma vista maravilhosa, e seguiram viagem sem transtorno....maior.

Mas o tal de individuo acompanhante continuou tentando atrapalhar meus planos. Ele tentou convencer o Flavio a não visitar a cidade, porque tudo teria sido destruído. E propôs que ao invés, fossemos visitar o acampamento dos atingidos pelo terremoto, que ainda continuam em tendas, três meses após o mesmo. Mas tudo correu como eu havia planejado: eles não entraram pelo portão principal da cidade, o que teria me atrapalhado muito, e a pessoa que os levou ao acampamento era meu mensageiro, com quem o Flavio tinha prometido a se encontrar caso viesse ao Nepal.

A visita ao acampamento foi rápida devido a um conflito que havia acabado de ocorrer entre os acampados e a administração do campo, o que dificultou uma conversa mais aberta com os afetados. Como sobrou tempo, meu mensageiro propôs que o grupo desse uma olhada pelo menos em alguns templos importantes da cidade, que ficavam fora da área que exige o pagamento de ingressos. Finalmente, as coisas estavam chegando aonde eu queria.

Templo de Indrayeni
Eu estava tão ansiosa que não conseguia controlar minhas cores, e todos os Kurtas e Saris das nepalesas que passavam com seus cestos de mantimentos e com suas crianças com uniforme escolar impecável pareciam se incendiar, ao sol de uma hora da tarde, irradiando as brilhantes cores do arco-íris. Eles foram subindo lentamente do acampamento dos afetados em direção a uma porta secundária que levava a zona central da cidade. Após andar uns cem metros, meu mensageiro mostrou uma construção pequena, a direita do caminho, edificada sob uma árvore sagrada e disse: este é o templo da Deusa Indrayeni, rainha dos céus, que usa o arco-íris como arco para lançar raios, trovoes e temporais, ou mesmo para seu transporte.


O Flavio olhou na minha direção, como se estivesse me vendo e vi lágrimas brotar dos seus olhos, e fiquei triste. Não era isso que eu queria causar, só queria que ele lembrasse de nossa historia no Nepal, há muito tempo, quando nos conhecemos em meio às montanhas, trabalhando os campos, cuidando de búfalos e cabras, e nos amando como sempre nos amamos, pelas ruas de Bhaktapur. Queria mostrar para ele que o amor é eterno para além desta vida, porque vida não tem começo, meio ou fim, só nossos corpos.


Continua...

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